quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Uma declaração de amor

Se no dia primeiro de janeiro de 1983, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, minha mãe não tivesse dado a luz a um pequeno menino, eu certamente não me sentiria no direito sagrado de escrever estas palavras.

Mas dizem que o mundo é feito de perguntas e não de respostas, então hoje mais cedo me dei ao direito (e quem sabe também o dever) de me fazer a seguinte pergunta:

"Caro Rio de Janeiro, até quando você conseguirá viver sem mim?"

O que no fundo traduz uma questão muito mais pessoal do que esta simples frase retórica: até quando eu conseguirei viver sem você, meu caro Rio?

Rio de Janeiro das mulheres maravilhosamente sensuais com seus shortinhos e camisetas de malha stonada desfilando para lá e para cá por Ipanema e Leblon. Elas andam em um compasso diferente, que difere-se do mundo inteiro. Quem sabe em Londres, temos a arte, em Paris, a estética perfeita, em Nova York, o poder, e no Rio, as mulheres de todos os tons e cheiros, caminhando com suas pernas finas e lindas para que o mundo pare para olhar.

Sim, o meu Rio de Janeiro, pai perfeito de todo samba e de toda bossa tem um molejo amoroso, de um baticumbum que só existe por ali. Ele não continua lindo, porque sempre o foi, desde os primeiros índios até os últimos de nós. O Rio, pátria nossa, vive indiferente às preocupações voluptuosas paulistanas, por exemplo. E um graças a Deus por isso.

Ser do Rio é amar o mar, a natureza, o céu de abril que o cobre de saudades de outros abris, mas que também anda passo a passo pela Rio Branco, sabendo que dia de feira também é sagrado.

Terra de Chico, Vinicius, Tom, Jabor, Francis, Villa-Lobos e mais uma legião de bambas. Gente de todas as carcaças, todas as matizes, todos os sabores, terra de gente como eu, carioca meio que sem querer.

Rio de Janeiro, Flamengo, Fevereiro e Mangueira. Lugar que não é possível ficar-se indiferente, ou se ama ou se ama, o Rio é mais do que uma corrente d'água correndo de amores para o oceano azul, é acima de tudo uma terra fértil, que aonde se plantando tudo dá. E sempre dá Rio na cabeça, nas cabeças cobertas com chapéus de palha andando pela sua orla infinita numa manhã ensolarada de domingo.

Ser carioca é assim, como um presente aberto dado por Deus. Ser carioca é muito mais do que uma certidão de nascimento registrada no lugar certo. É um estado de espírito, é onde alma e coração se encontram na esquina da Vinicius de Moraes com Vieira Souto.

O Rio é poesia, poesia completa com dois quartetos e dois tercetos. Rio, meu caro Rio, tu és o soneto por excelência. Quando em teus braços durmo, acordo devagar, como diz o poeta.

Rio de Janeiro é mais que um lugar. É como uma esperança em formato de cidade. É aonde amores perdidos se reencontram, olhares perdidos se acham. O Rio é assim, maravilhosamente encontro. É o lugar onde a arte do encontro se encontra em sua forma mais bruta, mais linda, mais carioca.

Rio, eu te amo, como se fosse possível não amar. Amo seu jeito moleque, seu sotaque malandro, sua forma perdida de dizer de volta "eu também te amo".

Rio, meu janeiro predileto, amo-te por inteiro, seu aterro me arde, sua encosta me sustenta, "do Leme ao Pontal", te amo por inteiro.

Rio de Janeiro, isso é muito mais do que uma declaração de amor, é um singelo "até breve".

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