quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sobre a perda do verdadeiro amor

já perdi a conta de quantas vezes escrevi sobre o amor. foram muitas. mil palavras em prosa, mil palavras em versos. todo ser poeta sabe muito bem que amor é assim mesmo: é a nossa matéria prima, é nossa lágrima quando se despede e nosso sorriso maroto quando nos chega uma mensagem no celular dizendo um simples "me liga".

amar é assim. é verbo no infinitivo prestes a virar ação libertadora no coração de quem ama. amar é desprender as amarras de uma vida individual para que uma outra pessoa se amarre a você. o verdadeiro amor é a matemática do impossível. é quando um mais um sempre será igual ao um que são os dois amantes. é a força cósmica mais poderosa do que qualquer aparato inventado pelo homem. por amor morre-se, mata-se, vive-se, por amor todos os verbos ganham status diminutos ante a onipresença do amor.

em certo sentido, amor é isso. é essa melação que prende a alma humana e nos faz mais humanos do que poderíamos ser.

por isso é tão difícil perdê-lo. porque quem perde um amor, não perde apenas a presença de uma outra pessoa em sua própria vida. isso seria pequeno demais. seria cretino demais. seria resolvível com muito mais facilidade do que o amor é digno. quem perde um amor perde um pouco de si, e se assim não fosse, não seria amor verdadeiro, mas apenas (no máximo) uma paixãozinha fugaz, ou um amoreco de verão.

perder um amor é, pelo menos para os poetas, categoria na qual me incluo com um pouco de arrogância, como amputar parte de nossa alma. e bem sabem os médicos, e melhor ainda, os amputados, que quando perdemos um membro de nosso corpo é possível que sintamos o membro fantasma, como se ele ainda estivesse ligado à nós.

perder um amor é assim. é a dor fantasma de quem já não está mais em nós. por um tempo, parece que o amor só está um pouco distante, nos falta coragem para admitir que ele se foi de uma vez por todas. então paramos à beira do caminho como que a esperar o retorno de quem já nos disse adeus, muitas vezes sem muita piedade.

nos adoece, vira e mexe nos enchemos de falsas esperanças como que para manter vivo dentro de nós algo que simplesmente não existe no outro. porque, meu caríssimo leitor, amor é exatamente isso: você existir em outra pessoa.

quem perde um amor, perde parte da vida. isso se ele é realmente verdadeiro, porque se não for, perder um amor será apenas por fim a um relacionamento que facilmente será já já substituído por um enlace qualquer.

mas, pelo menos aqui neste pequeno texto, trato do amor real, verdadeiro e por isso mesmo, incrivelmente doloroso de se perder. o amor que como um filho é gerado dentro do nosso ser, mas não um amor paternal, ao contrário, um amor santo e carnal, como só o verdadeiro amar seria capaz de conciliar duas realidades tão distintas.

perder um amor é perder o chão, o pão de cada dia, a alma e a alegria de uma vida verdadeira. quem perde um amor seria bom que soubesse fazer poesia, para colocar para fora aquilo que ficou no lugar do amor dentro do coração.

acho que não é preciso mais palavras. agora que venham as lágrimas, os versos e as noites mal dormidas com a saudade de quem ama sem ser amado.

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida me ensinou a ressignificar... a não idealizar o que perdi, e a esperar pelo novo que nasce como possibilidade a cada dia...

Anônimo disse...

Cada dia, um novo dia, uma nova oportunidade. E até porque não,uma nova vida! O fim é o início.