domingo, 9 de janeiro de 2011

Abandonado

Um homem abandonado vale por dois
por três, por mil
Abandonado, por um, por todos, pois...

Um homem abandonado está sozinho, como não?
Só, solitário, largado em seu próprio chão.
Chora sangue, vomita fel.

Uma duas três
Abandonado, tombado como mártir
Não há mão que o levante

Então ele agoniza. Pobre à beira da vida
Na sarjeta, lambe a ferida o cão
Um homem abandonado está morto, como não?

Mostre os dentes! Sorria para a foto de família
É natal, é aniversário do avô, da mãe, da tia
Feliz ano novo, você sem companhia

Que nojo que me causa
Um homem abandonado não vale o pão que come e nunca caga
Morra, pois então...

Morra uma duas todas as vezes que lhe mandar
Morra aqui, ali e acolá
Coração vagabundo, o homem morto, não para de chacoalhar

Uma morte lenta, sim senhor
Indigna, sem cheiro, sem odor
Esta é minha morte, morte de quem morreu

Saia deste estreito mundo cão
Mas não fique mal na foto, após o flash volte pro curral
Um homem abandonado é assim...

Vale tudo e não vale nada
Aquilo que escarra é o motivo de sua dor
Não tem vida, não tem morte

Alma não tem, homem de sorte
Abandonado pela própria dor
Abandonado por ele, ela, por ninguém

Mostre as manchetes daquele dia
Em que suas orelhas queimaram ao telefone
Quando te disseram tchau, adeus, até o funeral ou o céu

Você foi substituído, meu amigo
Seu caixão está ali, fique à vontade
Morra logo para que você volte a normalidade

Morra rápido, doente ou são
Morte matada ou doença sem cura
Mas vá rápido, são quinze pras dez

O tempo urge deste lado da baía
Mesmo você tendo nascido do lado de lá
Aqui as coisas são assim: um beijo e tchau

É tão fácil dizer adeus quando o deixamos sair do coração
Assim como é difícil de escutar
Quando nosso ouvido está apontado pra outro lugar

Homem abandonado, quão difícil é te amar
Homem abandonado você ele e tudo o mais
Mas apagarei a sua vela, prometo

Nada de luz para o seu além
Ninguém jamais te mereceu
E nem te merece, ninguém

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