domingo, 23 de janeiro de 2011

Lendo no momento


Breves Entrevistas com Homens Hediondos. David Foster Wallace. Companhia das Letras.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Renato Russo está cantando

Ouça o Renato Russo cantando.

Se você se identificar profundamente com sua voz, seu estilo, suas palavras melodiosas saindo graves por suas pregas vocais enquanto a dor de seu peito é exalada como um perfume pelos quatros cantos por onde o som alcança, isso quer dizer, meu caro leitor, que você está em maus lençóis.

A Legião é praticamente um medidor para a saúde de nossa alma. Ninguém em sã consciência viaja por suas músicas se não for, mesmo que inconscientemente, para afogar nas letras de Renato suas mágoas, rancores, amores perdidos, vidas despedaçadas.

Somos todos índios, escalamos montes castelos sob a alcunha de João de Santo Cristo, então percebemos que nossas mariaslúcias se prostituíram com os jeremias da vida.

É ai que, de repente, percebemos que a única coisa que pode nos libertar é tentar voar sem asas da janela do quinto andar.

Assim que percebemos o quanto frágil somos diante desta vida.

Que basta um vento mais forte para que fiquemos soterrados. Basta um não. Basta uma mulher em quem confiamos parte de nossa vida nos rejeitar. Basta nosso marido bater a porta de casa sem dizer adeus. Basta que o nosso chão inexista por um centésimo de segundo para que caiamos para sempre no buraco da amargura e da auto comiseração.

Estamos, eu e você, sob a mira todo o tempo. Acho que é isso que a Bíblia quer dizer quando fala que o diabo está o tempo todo rugindo como um leão buscando a quem ele possa tragar.

É assim, porque somos tão pequeninos que um amor mal resolvido nos desmonta.

O Renato sabia disso.

Melhor do que qualquer outro de nossa geração. Por isso é que quando estamos no lixo, buscamos por ele, nos dizendo que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". E talvez isso tenha sido a coisa mais importante que ele se aventurou a falar. Realmente o amanhã é uma ilusão, uma invenção humana para que consigamos atravessar o hoje iludidos pela certeza de algo que não existe, mas que nos parece tão real que planejamos vidas inteiras para serem desfrutadas no amanhã que nunca chegará.

Nossas pequenas vidas são como grafites de lapiseiras 0,5.

Nossas pequenas vidas ardem sob o calor das emoções e a todo o momento as cicatrizes das desilusões não parecem como as marcas de balas que os soldados fanáticos trazem no corpo com orgulho. As cicatrizes que trazemos são (muitas vezes) o motivo de nossa vergonha. De que fomos trocados por valor algum, de que preferiram outro ao invés de nós, de que fomos deixados para trás com as malas nas mãos.

Então cientes dessas coisas, jogamos tudo para o amanhã e nos esquecemos que é hoje que todas essas coisas estão acontecendo. Preferimos ignorar o agora.

No fundo, não estamos atrás de cura, libertação, ou você dê o nome que achar melhor. Estamos mesmo é querendo colo, ou melhor, morfina para que paremos de sentir dor enquanto a flecha continua cravada em nossa perna. Queremos paliativos para sofrer e sermos alisados pela vida.

Infelizmente a vida não alisa ninguém.

Quem sabe não exista nada mais consistente do que a nossa própria vida, para nos provar que no final das contas não passamos de completos idiotas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lendo no momento


July, July. De volta ao começo. Tim O'brien. Editora Best Seller.

Uma declaração de amor

Se no dia primeiro de janeiro de 1983, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, minha mãe não tivesse dado a luz a um pequeno menino, eu certamente não me sentiria no direito sagrado de escrever estas palavras.

Mas dizem que o mundo é feito de perguntas e não de respostas, então hoje mais cedo me dei ao direito (e quem sabe também o dever) de me fazer a seguinte pergunta:

"Caro Rio de Janeiro, até quando você conseguirá viver sem mim?"

O que no fundo traduz uma questão muito mais pessoal do que esta simples frase retórica: até quando eu conseguirei viver sem você, meu caro Rio?

Rio de Janeiro das mulheres maravilhosamente sensuais com seus shortinhos e camisetas de malha stonada desfilando para lá e para cá por Ipanema e Leblon. Elas andam em um compasso diferente, que difere-se do mundo inteiro. Quem sabe em Londres, temos a arte, em Paris, a estética perfeita, em Nova York, o poder, e no Rio, as mulheres de todos os tons e cheiros, caminhando com suas pernas finas e lindas para que o mundo pare para olhar.

Sim, o meu Rio de Janeiro, pai perfeito de todo samba e de toda bossa tem um molejo amoroso, de um baticumbum que só existe por ali. Ele não continua lindo, porque sempre o foi, desde os primeiros índios até os últimos de nós. O Rio, pátria nossa, vive indiferente às preocupações voluptuosas paulistanas, por exemplo. E um graças a Deus por isso.

Ser do Rio é amar o mar, a natureza, o céu de abril que o cobre de saudades de outros abris, mas que também anda passo a passo pela Rio Branco, sabendo que dia de feira também é sagrado.

Terra de Chico, Vinicius, Tom, Jabor, Francis, Villa-Lobos e mais uma legião de bambas. Gente de todas as carcaças, todas as matizes, todos os sabores, terra de gente como eu, carioca meio que sem querer.

Rio de Janeiro, Flamengo, Fevereiro e Mangueira. Lugar que não é possível ficar-se indiferente, ou se ama ou se ama, o Rio é mais do que uma corrente d'água correndo de amores para o oceano azul, é acima de tudo uma terra fértil, que aonde se plantando tudo dá. E sempre dá Rio na cabeça, nas cabeças cobertas com chapéus de palha andando pela sua orla infinita numa manhã ensolarada de domingo.

Ser carioca é assim, como um presente aberto dado por Deus. Ser carioca é muito mais do que uma certidão de nascimento registrada no lugar certo. É um estado de espírito, é onde alma e coração se encontram na esquina da Vinicius de Moraes com Vieira Souto.

O Rio é poesia, poesia completa com dois quartetos e dois tercetos. Rio, meu caro Rio, tu és o soneto por excelência. Quando em teus braços durmo, acordo devagar, como diz o poeta.

Rio de Janeiro é mais que um lugar. É como uma esperança em formato de cidade. É aonde amores perdidos se reencontram, olhares perdidos se acham. O Rio é assim, maravilhosamente encontro. É o lugar onde a arte do encontro se encontra em sua forma mais bruta, mais linda, mais carioca.

Rio, eu te amo, como se fosse possível não amar. Amo seu jeito moleque, seu sotaque malandro, sua forma perdida de dizer de volta "eu também te amo".

Rio, meu janeiro predileto, amo-te por inteiro, seu aterro me arde, sua encosta me sustenta, "do Leme ao Pontal", te amo por inteiro.

Rio de Janeiro, isso é muito mais do que uma declaração de amor, é um singelo "até breve".

Lé com cré

Teoricamente eu até teria que escrever alguma coisa que entretece meus poucos e fiéis leitores e outros poucos leitores esporádicos, se é que esses existem.

Mas eu estou com uma brutal preguiça. Talvez, quem sabe? se eu não tivesse uma preguiça tão grande para escrever e não ficasse procrastinando tanto eu já teria feito tantas pessoas felizes ao falar de assuntos relevantes (e outros nem tão relevantes assim).

Hoje mais cedo eu queria escrever sobre os meus sonhos, que não são tantos nem muito menos vultuosos para que cause reboliço em lugar algum. Depois pensei o que isso interessa para as pessoas além de mim mesmo. Depois vi o fórum da semana no Manhatann Connection que questionava o porquê das pessoas escreverem de graça na internet.

Pessoalmente eu acho que ninguém pagaria um níquel sequer para que eu fique o dia inteiro inventando histórias que divirta as pessoas, ou mesmo que eu escreva coisas profundas e religiosas que alegrariam e chacolhariam a alma de alguns leitores.

Quem sabe em um futuro breve eu não me engane profundamente, e inclusive me alegre imensamente com isso, e veja as minhas palavras rendendo dinheiro além de alguns elogios? Seria ótimo para minha auto-estima e para a realização dos meus singelos sonhos, os quais eu ainda não compartilhei, mas que pelo visto será uma boa que eu os compartilhe, já que, poder ser, algum dia você que agora está me lendo, possa contribuir para que eles se tornem realidade.

Sabe-se lá, não é mesmo?

No momento eu preciso, de fato, é de um xarope para tosse. Porque enquanto minha cachorrinha dorme em berço esplendido largada no chão de madeira do meu quarto, eu estou com sono e com aquele pigarro cretino na garganta.

Tentarei uma pastilha, comprada em minha última ida à Niterói. Foi a primeira vez que eu fiz uma viagem para cuidar de questões pastorais. Não que tenha sido uma grande viagem, já que sai do Rio e apenas atravessei uma ponte, mas é com pequenos passos que iniciamos uma grande caminhada (frase clichê horrorosa), e quem sabe um dia eu não irei atravessar o Atlântico ou outras galáxias.

Sabe-se lá, não é mesmo?

Para quem estava com preguiça (e está escrevendo de graça), até que não está mal.
Perguntas como "o que é a vida?" estão naquela gloriosa categoria de questões que não são para serem feitas se você quiser realmente saber a resposta.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O homem comum

Parece que cada dia que passa é mais difícil ser simplesmente um homem comum nesta nossa cultura condensada, populesca e acéfala na qual estamos todos (infelizmente) inseridos.

Não quero ser VIP, e tenho certeza que 99,9% daqueles que sonham em sê-lo não fazem a mínima idéia do que esta sigla significa. Não quero ser da "diretoria". Não quero que minha filas sejam menores, nem passar por debaixo das cordas que separam as pessoas normais dos afortunados com seus nomes em listas de festas.

Não me importo com popozudas ou cachorras.

Não me presto a ficar levantando pesos para tornear meus músculos. Prefiro-os flácidos e sinceros do que volumosos às custas do meu tempo e do meu privilégio de ser diferente da maioria. Hoje eu vi um garoto saindo de uma academia e me escandalizei com o tempo que eu gastei em lugares como aqueles. Nada de camisetas cavadas para mim. Nada de decotes masculinos. Nada de roupas (na maioria da vezes falsificadas? quem sabe?) com cavalinhos, jacarézinhos, ou quaisquer outros bichinhos, só para proporcionar a quem usa um status imbecil.

Quanto você pega no supino? DANE-SE!

Eu quero ser comum, no sentido mais pejorativo que esta expressão possa parecer para a maioria. Portanto de agora em diante não quero mais ser "leke", "brother", "mano" ou qualquer outro bordão que me identifique com nossa gloriosa cultura.

Não faço a mínima questão de saber o que vai "bombar" aqui ou ali. Qual a música que estará nas paradas do carnaval? Estou me lixando.

Não quero ser top também. Nada de meu nome associado a coisa alguma.

Eu quero o direito de ser comum. Simples e comum. Exatamente o que ninguém quer ser. Sonho com os bastidores, com o silêncio do meu quarto e a paz da minha alma. Sem o tum tum tum das batidas da música eletrônica da moda.

Você pode se perguntar, com razão, o porquê desta raiva toda?

Raiva nenhuma. Juro. Eu só quero ficar de fora, estou lutando pelo direito sagrado de me abster de qualquer tendência e ser simplesmente EU.

Pois se você for apenas um pouco atento, o que quero é ser um homem comum, o que hoje em dia significa ser exatamente o oposto de (quase) todos, por mais contraditório que isso possa parecer.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Como conviver com a perda do amado

Chega de poesias intituladas "Eu te amo". Essa frase é preciosa demais para ser assim, lançada ao vento, como quem quebra pratos em um almoço grego.

Chega de queimar meu tempo e minha pouca criatividade com quem não se importa nem um pouco. Isso é loucura, não é poesia. Não é ser poeta, é ser idiota, certo? Eu me sinto muitas coisas na vida, menos idiota.

Mas como o amor embabaca qualquer um, não me sinto tão imbecil assim, nem creio ter perdido tanto tempo também, afinal de contas, quem escreve, por mais que não admita, escreve primeiro para si, para que assim, transborde para o próximo.

A grande conclusão que eu cheguei, após apanhar da vida, apanhar dos meus amigos, apanhar de mim mesmo, é que ninguém, ninguém debaixo deste sol tropical vale a pena ser amado se não estiver pronta(o) para retribuir com amor o amor recebido. (é lógico que estou falando do amor sentimento entre duas pessoas, homem-mulher e não do "amai ao seu próximo...")

Então meu conselho para os amantes que amam em vão é que façam o luto do amor. Porque um amor unilateral é um amor morto, que se não o enterrarmos ele putrefará como qualquer outra coisa morta que não vai para debaixo da terra.

Não enterre o seu amor no seu coração. Ninguém usa terreno nobre para fazer cemitério. Não existe nada mais nobre neste mundo do que o seu coração, acredite em mim. Nem mesmo o seu amor por outra pessoa é nobre como o seu coração. Cuide dele, porque ninguém o cuidará por você.

Outra coisa fundamental é que você encontre nesta vida alguém que o compreenda como ser humano, que co-exista com você. Isso que dizer que essa pessoa não precisa ser parecida com você, basta que ela esteja disposta a sonhar com você e você com ela. Pessoas diferentes constroem vidas maravilhosas juntas, enquanto pessoas parecidas podem se divorciar com a mesma facilidade com que se identificaram. Não existe regra para esse tipo de coisa na vida, então não invente aonde não cabe invenção.

Continuando... muita esperança paralisa sua vida. Se a pessoa preferiu seguir a vida dela sem você, muito provavelmente ela não voltará atrás. Então não idealize a vida, porque a vida é nua e crua, o dia-a-dia é feito de carne e osso e não de sua imaginação. Os momentos que vocês passaram juntos são tão importantes para você quanto sua festa de aniversário de 1986. São apenas memórias legais que não acrescentam em nada aquilo que você é nem aquilo que você irá construir na sua vida.

Permita-se continuar a viver. Você vale muito mais do que o alvo de seus sentimentos. Essa pessoa só passa a ser digna de ter o mesmo valor que você quando ela retribui o que você sente, da mesma forma. Toque o seu baile, porque a vida não espera ninguém.

Procure um novo amor, ou não procure nada. Isso cabe a você decidir. Só não tente ressuscitar aquilo que já morreu, pois isso é burrice e vai te machucar muito mais do que resolver seus problemas.

No mais, que o Senhor te abençoe. Essa foi antes de tudo uma palavra pastoral e é com coração de pastor que eu peço a Deus que ela te abençoe. Pois, sem hipocrisia, antes de escrever para você, estou escrevendo para mim.

Amém.

Eu te amo

Olho para céu e grandes nuvens de vinho
Um amor, um amigo
Tempestade que nunca cairá
Quantas pernas são precisas para formar um amor?
Uma dor, um alento
Teu suor no meu corpo seca ao vento
Chegou o tempo em que tudo terminou
Meu céu caiu, você voou

Escrevi na palma da sua mão
"Eu te amo por onde você for"
E você não disse nada
Nem adeus nem alô
Enquanto isso eu choro com a força de um mar
Que se choca contra a pedra
Contra a vida, contra o amor

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Nada a declarar, apenas uma saudade que machuca em lugares da alma que nem deveriam ser tocados.

domingo, 16 de janeiro de 2011

eu sou um escritor. bom, mediano, excelente, não importa. o que eu sei fazer é escrever. tem gente que sabe fazer cirurgia, tem gente que sabe consertar carro. eu, mal ou bem, escrevo. pronto, saí do armário.
hoje eu chorei, mas não saiu nenhuma lágrima.

Eu te amo

De tudo de idiota
que eu já falei
na minha pequena vida
"Eu te amo"
não dá nem pra saída

De entrada, quase nada
no meio, meu céu vermelho
Eu te amo pra cá
Eu te amo pra lá
E tem sempre alguém tocando o baile
de minha valsa ferida

Eu te amo

Este silêncio azul
explode minhas cordas vocais
Eu te amo, um adeus
Até nunca mais

Eu te amo

Eu te amo
Não, nada disso
Amo sim
Ama nada
Eu te amo
Já te disse nada disso
Eu te digo, amo você

Ama nada, acorda
Claro que amo, que você tem com isso?
Tenho tudo, não é a mim que você ama?
Amo, claro que te amo
Então me esquece, sai da minha vida
desce da minha cama
Que cama? eu só te amo nada demais
Então ame, você pra mim não existe mais

Tudo bem, mas eu te amo mesmo assim
Assim como?
Eu te amo... só isso basta
Ama nada
Então tá, deixa quieto

Não, não, fala
Falar o que?
"Eu te amo"
Me ama?
Não, mas fala
Não, já falei demais
Não disse que não ama
É disse...
Então diga, fale a verdade
Eu te amo
Só isso?
É, de resto é só saudade

Eu te amo

Eu te amo
ponto final e acabou
Eu te amo
corpo alma e tudo o que restou
Eu te amo assim
sem pretensões
Um amor macio movediço
que faz meu sangue
correr por dois corações
Eu te amo, amo mesmo
de verdade
Um amor que doloroso e sem remédio
Eu amo simplesmente
embora não desfrute o privilégio
de ser amado igual
Eu te amo
acabou e ponto final

sábado, 15 de janeiro de 2011

a pior falha é aquela que não conseguímos nos perdoar.

é deitar na cova que ousamos cavar para nós mesmos.

pobre de nós, mas jamais coitados!

aprenda de uma vez por todas a ser poeta, meu rapaz: um amor, uma desilusão e já está você ai com o coração batendo na palma de sua mão direita.

pronto, é disso que se fazem os poetas.

ou pensavas que irias serpentiar em versos as alegrias desta vida?

agora que já não há lágrimas para chorar, você está pronto.

ela está nos braços de outro, meu rapaz. você perdeu, não há mais porque lutar.

palmas para os poetas, muitas palmas! palmas que você não pode bater.

ou vai largar o coração para clap clap clap?

acho que não, não é mesmo, rapaz?

enquanto você escreve, lá está ela, nos braços de um outro.

ela feliz, você triste. você poeta, ela sequer lembra que você existe.

muito bem, caro poeta. poesia não te faltará. muita poesia!

dê um sorriso. desfaça essa cara de maltratado.

enfie esse coração peito adentro.

já está pronto pra sonhar, então sonhe poeta!

sonhe com a mulher amada, com a vida em prosa se desfazendo em versos.

você já é digno dos seus sonhos.

a vida parou no instante em que você aos poucos se tornava poema.

deixe o peito chacoalhar seu coração vagabundo.

o entregue à vontade agora, poeta.

a vida pede passagem, não perca a viagem

vai simbora, não deixe rastro, não conte um conto

tudo foi-se por entre os seus dedos

contente-se com os versos que ainda irás fazer

e jamais morra de amor. morra de poesia!
sim, eu estou muito mais triste do que imaginei estar.

Quando o coração não cabe no peito

Não sei quantos seres humanos já tiveram essa sensação. Uma sensação de descontinuidade da vida, que faz de nós menores do que realmente somos, que faz com que o coração pareça grande demais para o peito mirrado, e quando ele bate (e ele sempre bate) tortura-nos muito mais do que nos ajuda a sobreviver.

Quando o coração não cabe no peito, quando a vida parece ser tão má que temos a impressão de que não vale um níquel vivê-la. Afinal viver passa a ser tão subjetivo que não nos damos ao direito de levantar a cabeça e continuar a jornada que nos foi proposta.

Quando o amor é mais uma tortura do que um sentimento digno de poesias e abraços.

Quando o coração não cabe no peito, nos nossos peitos diminutos, a vida parece tão limitada quanto uma mesa de ping-pong ou um tabuleiro de damas.

Reconheço que estou tão perturbado que não consigo colocar em palavras o que se passa dentro de mim. É o que acontece quando o coração não cabe mais no peito, talvez porque você já o deu para alguém que não se importou por tempo suficiente para que você pudesse resgatá-lo.

Um adeus ao coração, que hoje bate fora de mim. Um adeus ao amor que para ser infinito teve um fim tão cretino que só nos resta passar as mãos nos cabelos e dizer que simplesmente não era para ser assim.

Há quem diga que, mesmo com um coração que não cabe no peito, ainda temos o direito de sermos felizes. Mas e se não quisermos ser felizes! o que me diz, então? E se não quisermos que a vida prossiga? E se a vida estática, que faz-nos purgar pelo que perdemos, seja a vida que queremos?

Podem nos chamar de sádicos. De cretinos, que pensam estar chamando atenção do nada. De hipócritas que falam uma coisa mas vivem outra.

Podem nos chamar de malditos. Talvez seja isso que somos todos nós, afinal. Malditas pessoas cujo o coração não cabe em nosso peito, tamanha a significância de nosso passado bendito.
o mundo para
eu desço
pego carona

outros mundos
tantos quantos forem possíveis
outros destinos
não me tornam passivo

agente ativo
meu passado também me condena
cabelo ao vento
nos punhos algema

mundo que não para de rodar
eu pulo para outro mundo
tantos quantos existirem

minha alma parou
dou com a mão e entro nela
um beijo um coração
e nada mais me encanta
canta, pula e dança

e é hora do adeus

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"These words i write keep me from total madness" - Charles Bukowski
vida, passa rápido como ela só
vida sem nó, que não ata nem desata
bandida, veio e já se foi
essa saudade de viver que mata
um dia me levará junto com ela
seja lá pra onde for

O maior milagre do diabo

Jesus de Nazaré, a quem chamamos Senhor e Deus, disse em São Mateus 12:34 que a boca fala do que está cheio o coração. Com isso podemos supor que um homem com o coração amargurado terá palavras amargas para ser compartilhadas com o seu próximo. Por outro lado, um homem com o coração brando, terá palavras brandas para ser compartilhadas com seu próximo.

Não cabe muita discussão nisso. Jesus estava confrontando os fariseus que não criam na messianidade dele.

A boca fala do que está cheio o coração.

São Tiago confirma isso em sua carta, no capítulo 3:12, quando diz "Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce."

Entende isso? Temos que ser expressão fidedigna de nosso interior em nossas atitudes exteriores. Se estamos chateados, estamos chateados. Se estamos felizes, estamos felizes. Sem muito enfeite, sem máscara nem maquiagem.

Tanto Jesus quanto Tiago nos levam a uma vida de intensa autenticidade ante a vida que temos.

Não parece haver muito segredo nisso. Está tudo muito claro. Uma mesma fonte não pode dar água doce e água salgada, amarga, ou seja lá o que for. Fontes não têm torneiras para água doce e água amarga, elas simplesmente jorram.

Cá entre nós, não é necessária muita inteligencia para compreender isso.

Pois bem, o que o diabo fez? O diabo fez o milagre das torneiras. Ele fez com que uma fonte jorrasse muitas águas.

Chamam isso de mentira. Eu chamo de torneira. Você chame do que você quiser.

O diabo inventou a capacidade de expressarmos coisas diferentes daquilo que está em nosso coração. Ele inventou a capacidade de estarmos com o coração amargo e ainda assim estamparmos sorrisos falseados em nossas caras de pau. Ele inventou a capacidade de elogiarmos um trabalho medíocre apenas para ficarmos bem com quem deveríamos criticar.

O diabo criou o tapinha nas costas, o puxa-saquismo, as segundas intenções. O diabo com uma tacada deu instrumentos de trabalho para todos os políticos vis da história inteira.

Quando um político em campanha beija uma criança remelenta e dá um sorriso para a câmera. Isso é coisa do diabo.

Quando você diz "está ótimo" quando na verdade está uma droga, isso é coisa do diabo.

Quando você responde "estou bem", talvez pra encerrar a conversa ali mesmo, quando na verdade não está, isso é coisa do diabo.

Quando você faz juras de amor apenas para fisgar a garota(o), isso é coisa do diabo.

Toda vez que seu exterior não estiver em plena harmonia com o que está em seu interior, você está colocando em prática aquilo que o diabo fez de melhor: a torneira para a fonte d'água.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Deus soterrado

creio que milhares de teólogos estão neste exato momento arrumando boas desculpas para livrarem a cara de Deus devido à catástrofe na região serrana do rio de janeiro.

esse é o labor dos teólogos.

boa sorte para eles.

prefiro pensar aonde Deus está agora. neste exato momento em que eu escrevo este texto idiota me aproveitando de um momento de total desespero para colocar para fora minhas impressões sobre a vida.

(sim, eu prefiro me criticar antes que o façam por mim)

Pois bem...

Deus está soterrado. debaixo de toneladas de escombros, Ele está lá, ao lado de cada homem, mulher e criança que foram pegos de surpresa pelas forças da natureza e pela inoperância do aparato estatal.

enfim... é lá que Ele está. sufocado junto aos seus. Ele está lá, junto dos corpos de pessoas feitas à sua imagem e semelhança.

é bom que saibamos que o Eterno não faz a parte Dele e bate as mãos como quem diz "serviço feito", não. Deus se deixou soterrar para que de seu rosto corram as lágrimas de cada parente enlutado. Deus se deixou soterrar porque não haveria lugar melhor para Deus está, senão ao lado de cada criatura amada que respira oxigênio e lama tentando sobreviver mais uma hora.

libertem o Senhor! libertando os seus amados. dando vida digna ao ser humano.

O Deus soterrado clama por socorro. socorro para os Seus.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sobre a perda do verdadeiro amor

já perdi a conta de quantas vezes escrevi sobre o amor. foram muitas. mil palavras em prosa, mil palavras em versos. todo ser poeta sabe muito bem que amor é assim mesmo: é a nossa matéria prima, é nossa lágrima quando se despede e nosso sorriso maroto quando nos chega uma mensagem no celular dizendo um simples "me liga".

amar é assim. é verbo no infinitivo prestes a virar ação libertadora no coração de quem ama. amar é desprender as amarras de uma vida individual para que uma outra pessoa se amarre a você. o verdadeiro amor é a matemática do impossível. é quando um mais um sempre será igual ao um que são os dois amantes. é a força cósmica mais poderosa do que qualquer aparato inventado pelo homem. por amor morre-se, mata-se, vive-se, por amor todos os verbos ganham status diminutos ante a onipresença do amor.

em certo sentido, amor é isso. é essa melação que prende a alma humana e nos faz mais humanos do que poderíamos ser.

por isso é tão difícil perdê-lo. porque quem perde um amor, não perde apenas a presença de uma outra pessoa em sua própria vida. isso seria pequeno demais. seria cretino demais. seria resolvível com muito mais facilidade do que o amor é digno. quem perde um amor perde um pouco de si, e se assim não fosse, não seria amor verdadeiro, mas apenas (no máximo) uma paixãozinha fugaz, ou um amoreco de verão.

perder um amor é, pelo menos para os poetas, categoria na qual me incluo com um pouco de arrogância, como amputar parte de nossa alma. e bem sabem os médicos, e melhor ainda, os amputados, que quando perdemos um membro de nosso corpo é possível que sintamos o membro fantasma, como se ele ainda estivesse ligado à nós.

perder um amor é assim. é a dor fantasma de quem já não está mais em nós. por um tempo, parece que o amor só está um pouco distante, nos falta coragem para admitir que ele se foi de uma vez por todas. então paramos à beira do caminho como que a esperar o retorno de quem já nos disse adeus, muitas vezes sem muita piedade.

nos adoece, vira e mexe nos enchemos de falsas esperanças como que para manter vivo dentro de nós algo que simplesmente não existe no outro. porque, meu caríssimo leitor, amor é exatamente isso: você existir em outra pessoa.

quem perde um amor, perde parte da vida. isso se ele é realmente verdadeiro, porque se não for, perder um amor será apenas por fim a um relacionamento que facilmente será já já substituído por um enlace qualquer.

mas, pelo menos aqui neste pequeno texto, trato do amor real, verdadeiro e por isso mesmo, incrivelmente doloroso de se perder. o amor que como um filho é gerado dentro do nosso ser, mas não um amor paternal, ao contrário, um amor santo e carnal, como só o verdadeiro amar seria capaz de conciliar duas realidades tão distintas.

perder um amor é perder o chão, o pão de cada dia, a alma e a alegria de uma vida verdadeira. quem perde um amor seria bom que soubesse fazer poesia, para colocar para fora aquilo que ficou no lugar do amor dentro do coração.

acho que não é preciso mais palavras. agora que venham as lágrimas, os versos e as noites mal dormidas com a saudade de quem ama sem ser amado.
Ela sabe muito bem que eu a amo, embora não tenha acreditado em nenhuma das três palavrinhas mágicas que saíram de minha boca quando eu disse "eu te amo".
"O amor é um cão dos diabos" - Charles Bukowski

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Hoje eu te vi

hoje eu te vi
e te amei
assim, com um amor palpável
nada platônico
ou viagens do coração

hoje eu te vi
e te amei para sempre
você nos meus abraços quentes
seu sangue frio em minha veia

foi de relance, você lá e eu aqui
hoje, no dia em que te vi
decidi amar com todo amor

amar, amar e amar
muito mais do que viver
eu te vi, caminhando apressada
uma perna após a outra

sem palavras só o meu olhar em você
no seu corpo, seus cabelos escuros
tudo levado pelo vento quem vem do mar

hoje eu te vi
e decidi te amar
um amor real, concreto
minha víscera na sua

um amor carnal
amor sem metáforas
apenas meus olhos nos seus
hoje eu te vi
mas você de longe não me olhou

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O sonho de Luiza

Aviso: Luiza existe, é de carne, osso, sangue e suor. O sonho que será narrado realmente aconteceu. Não como fato, mas como sonho. Boa sorte.


Pois bem... Conversando com Luiza, talvez ontem ou anteontem, ela me confessou (ou melhor, só me contou mesmo) ter tido um sonho que se consistia do seguinte: Luiza voltava no tempo, até o primeiro ano do Ensino Médio, estava sentada em um jardim de sua cidade e foi-lhe dado o direito (e o poder) de reescrever aquilo que havia dado errado em sua vida. E assim, ela foi escrevendo uma lista. Não faço a mínima idéia do que se encontrava nesta lista além do único item que Luiza me contou.

IMPEDIR QUE CARLOS SE CONVERTA.

Para Luiza, e isso ela me confessou enquanto me contava o sonho, minha conversão, ou melhor meu engajamento no trabalho cristão é que era a raiz dos problemas de minha vida. Ela conhece bem os meus problemas, por isso fiquei surpreso com a sua conclusão. Nunca poderia imaginar que minha vida cristã pudesse estar surtindo esse tipo de feedback na vida de uma pessoa que me ama tanto quanto ela.

No meio da conversa ela resolveu parar porque disse que estava com medo que eu achasse que ela estava com o demônio no corpo, ou algo assim.

Então eu pensei (e continuo pensando) se há alguma possibilidade de Luiza estar certa, e se minha conversão, ou melhor, meu engajamento na "obra de Deus" não estivera, ao longo desses anos, me fazendo tão mal à ponto de isso ficar claro para as pessoas não-cristãs à minha volta.

Uma coisa é certa: minha vida nestes últimos quase dez anos simplesmente não decolou.

Não decolei como cristão. Reconheço e confesso que poderia orar muito mais, ler mais a Palavra, ser mais piedoso. Já fui um cristão muito melhor, no sentido religioso da coisa.

Não decolei como profissional. Enquanto estava na faculdade creio ter recebido um chamado divino para pastorear pessoas, assim, deixei de lado toda e qualquer vontade de seguir em minha profissão, a tal ponto que desde que me formei nunca exerci nem um segundo sequer o ofício que fui preparado para exercer.

Não decolei como pastor. Eu simplesmente não consegui assumir o ministério para o qual fui convidado. Não me sinto digno nem gabaritado para exercer tal função, o que cria um paradoxo em minha mente porque se por um lado eu não me sinto pronto, do outro lado eu direcionei minha vida inteira para isso, não sabendo fazer qualquer outra coisa senão pregar, escrever e aconselhar pessoas.

Não decolei como teólogo. Descobri que a teologia é muito mais um instrumento que nos afasta de Deus do que uma benção na vida de um cristão. Mas ter descoberto isso, meio que acabou com meu chão, pois eu estava sendo preparado (por mim mesmo) para o labor teológico junto aos meus pares. Agora isso se foi.

Não decolei como homem. Neste tempo namorei duas meninas. Uma eu fui digno e desmanchei porque não gostava dela, até ai sem problemas, coisas da vida. A outra eu me entreguei emocionalmente de tal maneira que ela entrou para a minha história como sendo a única pessoa deste mundo que ouviu de minha boca "eu te amo" com toda a sinceridade que uma alma aberta pode ter. Mas ela talvez não tenha conseguido conviver com alguém como eu, cheio de altos e baixos. Mulheres buscam segurança nos homens e naquele momento eu não era exatamente a pessoa certa para segurar ninguém. Tanto foi assim que a disse que eu mesmo acabaria sendo a causa de não ficarmos juntos. Não deu outra...

Não decolei como pessoa humana. Mais do que nunca, eu sou um homem em tratamento, cheio de impurezas emocionais que dariam um bom compendio psicológico. Não consigo entender a vida de um modo simples, não consigo vivenciar as coisas boas da vida como amar, andar na praia, sentir o sol na minha pele e o vento no meu rosto. Viver para mim é pesado, árido, difícil e penoso. É a verdade.

Simplesmente não decolei.

Mas você pode se perguntar, o que meu suposto fracasso tem a ver com o fato de eu ter recebido Jesus em minha vida?

Acho que nada. Até porque não tenho a capacidade (nem a vontade) de saber o que seria de mim se naquele dia eu simplesmente dissesse NÃO ao Espírito Santo.

Essas coisas me lembraram a águia. A boa e velha águia, que o profeta Isaías disse que voaríamos como águias e autor do Êxodo diz que Deus levou o seu povo até ele com asas de águia.

Interessante...

Interessante porque águias têm seu ninho nos cumes mais altos e quando elas querem ensinar seus filhotes a voar elas simplesmente os pegam com o bico e os arremessam montanha abaixo. Então elas voam, voam rápido para debaixo de seus filhotinhos, para que se ele não conseguir voar, ela o aninhe em suas asas de águia e o leve em segurança de volta ao ninho.

Eu não decolei.

Mas estou há dez anos sendo arremessado e voado nas asas de minha Mãe-Deus, Mãe-Águia, e talvez agora, depois de tudo isso, possa dizer como o escritor sagrado:"Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim"

domingo, 9 de janeiro de 2011

Explicação

Por que estou escrevendo tão mal?

Simples...

Falta de inspiração, meu companheiro, falta de inspiração.

Abandonado

Um homem abandonado vale por dois
por três, por mil
Abandonado, por um, por todos, pois...

Um homem abandonado está sozinho, como não?
Só, solitário, largado em seu próprio chão.
Chora sangue, vomita fel.

Uma duas três
Abandonado, tombado como mártir
Não há mão que o levante

Então ele agoniza. Pobre à beira da vida
Na sarjeta, lambe a ferida o cão
Um homem abandonado está morto, como não?

Mostre os dentes! Sorria para a foto de família
É natal, é aniversário do avô, da mãe, da tia
Feliz ano novo, você sem companhia

Que nojo que me causa
Um homem abandonado não vale o pão que come e nunca caga
Morra, pois então...

Morra uma duas todas as vezes que lhe mandar
Morra aqui, ali e acolá
Coração vagabundo, o homem morto, não para de chacoalhar

Uma morte lenta, sim senhor
Indigna, sem cheiro, sem odor
Esta é minha morte, morte de quem morreu

Saia deste estreito mundo cão
Mas não fique mal na foto, após o flash volte pro curral
Um homem abandonado é assim...

Vale tudo e não vale nada
Aquilo que escarra é o motivo de sua dor
Não tem vida, não tem morte

Alma não tem, homem de sorte
Abandonado pela própria dor
Abandonado por ele, ela, por ninguém

Mostre as manchetes daquele dia
Em que suas orelhas queimaram ao telefone
Quando te disseram tchau, adeus, até o funeral ou o céu

Você foi substituído, meu amigo
Seu caixão está ali, fique à vontade
Morra logo para que você volte a normalidade

Morra rápido, doente ou são
Morte matada ou doença sem cura
Mas vá rápido, são quinze pras dez

O tempo urge deste lado da baía
Mesmo você tendo nascido do lado de lá
Aqui as coisas são assim: um beijo e tchau

É tão fácil dizer adeus quando o deixamos sair do coração
Assim como é difícil de escutar
Quando nosso ouvido está apontado pra outro lugar

Homem abandonado, quão difícil é te amar
Homem abandonado você ele e tudo o mais
Mas apagarei a sua vela, prometo

Nada de luz para o seu além
Ninguém jamais te mereceu
E nem te merece, ninguém

Feridos

É difícil conceber a vida sem problemas ou percalços. Não tenho essa capacidade. Uma alma viva é uma alma exposta a feridas.

Fato.

Relacionar-se com Deus é ainda mais arenoso quando estamos feridos na alma. A maioria de nossas experiências com o Eterno se dá nesta dimensão. Na dimensão da mente, do espírito, na dimensão da interioridade de nosso ser.

Uma alma em apuros é uma alma exposta a ter graves problemas com a fé.

Em tempos que em vivemos uma verdadeira pandemia de doenças mentais, tais como a depressão, a fé em Deus nunca esteve tão difícil de ser desfrutada. Aonde está Deus diante de questões tão complicadas quanto a psique ferida? Como compreendê-lo se não temos uma mente salutar?

"Os loucos encontrarão o caminho" é o que a bíblia diz em relação àqueles que não dominam suas capacidades mentais. Mas e os que não são loucos? E os que estão apenas feridos, talvez à caminho da loucura, mas que ainda estão sãos o suficiente para sentirem-se desgraçados em meio ao mundo que os sufoca?

Complicado... Não tenho a resposta para nenhuma destas perguntas. E isso me aflige.

Pelo menos me consola que a resposta jamais será: "Fiquemos loucos todos nós os feridos!" Não pode ser assim. Não consigo crer desta forma simplista e cruel. Em contrapartida, qual será a solução para um problema invisível e tão devastador?

As doenças mentais deformam nossa visão de Deus, impedem-nos de ouvi-Lo claramente e nos deixam à mercê de nossa própria visão do mundo que nos cerca.

Que Ele tenha misericórdia de nós.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Acerca da saudade

Quando disse uma vez que a saudade é o privilégio de quem ama, não imaginei o quanto isso afetaria a minha própria vida. Foi em um outro tempo, em que eu pensava que a vida havia se tornado um pouco mais colorida (talvez um pouco mais branca, para ser mais exato na metáfora) que eu realmente caí em mim e disse que toda a saudade que eu sentia era fruto de amor primeiro que me tomava de assalto.

Fatalmente a vida se provou muito mais cinza do que qualquer um espera que ela se torne.

Porque, privilégio é uma palavra doce, nos remete aos primeiros, aos primogênitos, aos príncipes, aos que estão nos primeiros lugares de uma fila sem fim. Privilégio é desfrutar de um algo bom e raro, que nem todos podem possuir, porque se todos tem, já não é privilégio.

Saudade... o privilégio de quem ama.

Apenas nós, os amantes, temos a audácia de sentir saudade. De chorar pela falta da mão, do abraço, do cheiro, da presença, da voz, da vida que não está unida à nossa própria vida, pelo motivo que for.

Por isso choramos. As desventuras do amor perdido no espaço-tempo que em sua concretude se desmanchou no ar. Choramos o amor real feito platônico. Choramos a distância imensurável. Choramos inclusive pelo amor rejeitado, que nos colocou de lado para que continuasse a história sem que pudéssemos participar.

Choramos porque somos babacas, diria a maioria, com certa razão.

Eu me questiono: o que seria do lirismo da vida se não houvesse babacas como nós? Certamente não existiria.

A poesia não seria poesia. As palavras rimariam naturalmente, mas não se faria poesia, não senhor!

Saudade é privilégio de quem ama. Reafirmo. Porém, saudade é o fardo do amante. A saudade nos dá o privilégio de chorar, o privilégio de sofrer por amor e de amar apesar da dor.

Assim, são os amores não correspondidos. Aqueles amores que amargam a boca e a alma. Amores que enlouquecem quando não se tornam poesia ou lágrimas.

Um brinde aos privilegiados. Um brinde a você que sofre calado com a mente viniciada perambulando pela avenida Rio Branco pensando "e por falar em saudade, onde anda você?"

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A retomada

Bem... pela segunda vez em minha curta vida literária eu havia decidido não escrever nunca mais. Na realidade, desta vez, não foi uma decisão, me pareceu mais um hiato criativo de proporções infinitas.

Pois então, voltei às letras.

Ou elas voltaram para mim. Deus é quem sabe...

Estive conversando com uma amiga que disse que era abençoada pelos textos que eu escrevia. Não posso ser canalha suficiente para me calar diante disso. Por isso, ponho-me novamente diante do teclado como quem segura uma arma em uma mão e o coração na outra.

Um amor havia me levado ao silêncio. Tristes são os amores sem voz. E é assim o meu amor. Como tentei matá-lo, ignorá-lo, matá-lo novamente, decidi que está na boa hora de aprender a conviver com aquilo que está além de nossa capacidade de manipulação.

Por isso voltei a escrever. E volto mais frágil. Pobre e nu. Com a alma desnudada diante da impossibilidade do controle sobre a própria vida. Assim, escrevo como quem escreve para Deus. Ele se compadece dos fracos a ponto de só se parecer forte diante de nossa fragilidade.

"Deus é a minha força" - Só os fracos falam isso com sinceridade.

Portanto nada melhor para um coração machucado do que se colocar à caminho ao lado de Deus. Mesmo que a fé vacile e não consigamos enxergar Sua sombra ao lado da nossa, podemos ter certeza que o grande Deus, a quem chamamos pelo carinhoso nome de Pai, jamais deixará de crer em nós.

O Deus crédulo e forte é a minha força.

Agora, tendo disso isto, prometo que não vou calar meus lábios diante do mundo que me rodeia. Do meu mundo. Mundo que não pertenço por estar à caminho para um outro sentido de vida (que chamamos salvação), mas que me pertence por eu estar nele, embora ele não esteja em mim.

Eu, pobre, fraco e nu, em um mundo estranho, me coloco diante do Deus Eterno e digo: Eis-me aqui. Escrevo para Você, escrevo para o mundo. Escrevo para minha amiga que sem querer me proporcionou a retomada, ao mesmo tempo que escrevo para quem nunca vou conhecer.

Depois de tantas cambalhotas dadas por minha alma, como aquelas que damos quando uma onda mais forte nos pega na praia bravia, chegou a hora da retomada. Chegou a hora de não me deixar levar pelas conveniências e inconveniências de uma vida que não pode ser medida nem prevista.

Um dia de cada vez, uma palavra de cada vez.

Mais uma vez bem-vindo ao rincões de minha alma bandida.