domingo, 23 de janeiro de 2011

Lendo no momento


Breves Entrevistas com Homens Hediondos. David Foster Wallace. Companhia das Letras.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Renato Russo está cantando

Ouça o Renato Russo cantando.

Se você se identificar profundamente com sua voz, seu estilo, suas palavras melodiosas saindo graves por suas pregas vocais enquanto a dor de seu peito é exalada como um perfume pelos quatros cantos por onde o som alcança, isso quer dizer, meu caro leitor, que você está em maus lençóis.

A Legião é praticamente um medidor para a saúde de nossa alma. Ninguém em sã consciência viaja por suas músicas se não for, mesmo que inconscientemente, para afogar nas letras de Renato suas mágoas, rancores, amores perdidos, vidas despedaçadas.

Somos todos índios, escalamos montes castelos sob a alcunha de João de Santo Cristo, então percebemos que nossas mariaslúcias se prostituíram com os jeremias da vida.

É ai que, de repente, percebemos que a única coisa que pode nos libertar é tentar voar sem asas da janela do quinto andar.

Assim que percebemos o quanto frágil somos diante desta vida.

Que basta um vento mais forte para que fiquemos soterrados. Basta um não. Basta uma mulher em quem confiamos parte de nossa vida nos rejeitar. Basta nosso marido bater a porta de casa sem dizer adeus. Basta que o nosso chão inexista por um centésimo de segundo para que caiamos para sempre no buraco da amargura e da auto comiseração.

Estamos, eu e você, sob a mira todo o tempo. Acho que é isso que a Bíblia quer dizer quando fala que o diabo está o tempo todo rugindo como um leão buscando a quem ele possa tragar.

É assim, porque somos tão pequeninos que um amor mal resolvido nos desmonta.

O Renato sabia disso.

Melhor do que qualquer outro de nossa geração. Por isso é que quando estamos no lixo, buscamos por ele, nos dizendo que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". E talvez isso tenha sido a coisa mais importante que ele se aventurou a falar. Realmente o amanhã é uma ilusão, uma invenção humana para que consigamos atravessar o hoje iludidos pela certeza de algo que não existe, mas que nos parece tão real que planejamos vidas inteiras para serem desfrutadas no amanhã que nunca chegará.

Nossas pequenas vidas são como grafites de lapiseiras 0,5.

Nossas pequenas vidas ardem sob o calor das emoções e a todo o momento as cicatrizes das desilusões não parecem como as marcas de balas que os soldados fanáticos trazem no corpo com orgulho. As cicatrizes que trazemos são (muitas vezes) o motivo de nossa vergonha. De que fomos trocados por valor algum, de que preferiram outro ao invés de nós, de que fomos deixados para trás com as malas nas mãos.

Então cientes dessas coisas, jogamos tudo para o amanhã e nos esquecemos que é hoje que todas essas coisas estão acontecendo. Preferimos ignorar o agora.

No fundo, não estamos atrás de cura, libertação, ou você dê o nome que achar melhor. Estamos mesmo é querendo colo, ou melhor, morfina para que paremos de sentir dor enquanto a flecha continua cravada em nossa perna. Queremos paliativos para sofrer e sermos alisados pela vida.

Infelizmente a vida não alisa ninguém.

Quem sabe não exista nada mais consistente do que a nossa própria vida, para nos provar que no final das contas não passamos de completos idiotas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lendo no momento


July, July. De volta ao começo. Tim O'brien. Editora Best Seller.

Uma declaração de amor

Se no dia primeiro de janeiro de 1983, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, minha mãe não tivesse dado a luz a um pequeno menino, eu certamente não me sentiria no direito sagrado de escrever estas palavras.

Mas dizem que o mundo é feito de perguntas e não de respostas, então hoje mais cedo me dei ao direito (e quem sabe também o dever) de me fazer a seguinte pergunta:

"Caro Rio de Janeiro, até quando você conseguirá viver sem mim?"

O que no fundo traduz uma questão muito mais pessoal do que esta simples frase retórica: até quando eu conseguirei viver sem você, meu caro Rio?

Rio de Janeiro das mulheres maravilhosamente sensuais com seus shortinhos e camisetas de malha stonada desfilando para lá e para cá por Ipanema e Leblon. Elas andam em um compasso diferente, que difere-se do mundo inteiro. Quem sabe em Londres, temos a arte, em Paris, a estética perfeita, em Nova York, o poder, e no Rio, as mulheres de todos os tons e cheiros, caminhando com suas pernas finas e lindas para que o mundo pare para olhar.

Sim, o meu Rio de Janeiro, pai perfeito de todo samba e de toda bossa tem um molejo amoroso, de um baticumbum que só existe por ali. Ele não continua lindo, porque sempre o foi, desde os primeiros índios até os últimos de nós. O Rio, pátria nossa, vive indiferente às preocupações voluptuosas paulistanas, por exemplo. E um graças a Deus por isso.

Ser do Rio é amar o mar, a natureza, o céu de abril que o cobre de saudades de outros abris, mas que também anda passo a passo pela Rio Branco, sabendo que dia de feira também é sagrado.

Terra de Chico, Vinicius, Tom, Jabor, Francis, Villa-Lobos e mais uma legião de bambas. Gente de todas as carcaças, todas as matizes, todos os sabores, terra de gente como eu, carioca meio que sem querer.

Rio de Janeiro, Flamengo, Fevereiro e Mangueira. Lugar que não é possível ficar-se indiferente, ou se ama ou se ama, o Rio é mais do que uma corrente d'água correndo de amores para o oceano azul, é acima de tudo uma terra fértil, que aonde se plantando tudo dá. E sempre dá Rio na cabeça, nas cabeças cobertas com chapéus de palha andando pela sua orla infinita numa manhã ensolarada de domingo.

Ser carioca é assim, como um presente aberto dado por Deus. Ser carioca é muito mais do que uma certidão de nascimento registrada no lugar certo. É um estado de espírito, é onde alma e coração se encontram na esquina da Vinicius de Moraes com Vieira Souto.

O Rio é poesia, poesia completa com dois quartetos e dois tercetos. Rio, meu caro Rio, tu és o soneto por excelência. Quando em teus braços durmo, acordo devagar, como diz o poeta.

Rio de Janeiro é mais que um lugar. É como uma esperança em formato de cidade. É aonde amores perdidos se reencontram, olhares perdidos se acham. O Rio é assim, maravilhosamente encontro. É o lugar onde a arte do encontro se encontra em sua forma mais bruta, mais linda, mais carioca.

Rio, eu te amo, como se fosse possível não amar. Amo seu jeito moleque, seu sotaque malandro, sua forma perdida de dizer de volta "eu também te amo".

Rio, meu janeiro predileto, amo-te por inteiro, seu aterro me arde, sua encosta me sustenta, "do Leme ao Pontal", te amo por inteiro.

Rio de Janeiro, isso é muito mais do que uma declaração de amor, é um singelo "até breve".

Lé com cré

Teoricamente eu até teria que escrever alguma coisa que entretece meus poucos e fiéis leitores e outros poucos leitores esporádicos, se é que esses existem.

Mas eu estou com uma brutal preguiça. Talvez, quem sabe? se eu não tivesse uma preguiça tão grande para escrever e não ficasse procrastinando tanto eu já teria feito tantas pessoas felizes ao falar de assuntos relevantes (e outros nem tão relevantes assim).

Hoje mais cedo eu queria escrever sobre os meus sonhos, que não são tantos nem muito menos vultuosos para que cause reboliço em lugar algum. Depois pensei o que isso interessa para as pessoas além de mim mesmo. Depois vi o fórum da semana no Manhatann Connection que questionava o porquê das pessoas escreverem de graça na internet.

Pessoalmente eu acho que ninguém pagaria um níquel sequer para que eu fique o dia inteiro inventando histórias que divirta as pessoas, ou mesmo que eu escreva coisas profundas e religiosas que alegrariam e chacolhariam a alma de alguns leitores.

Quem sabe em um futuro breve eu não me engane profundamente, e inclusive me alegre imensamente com isso, e veja as minhas palavras rendendo dinheiro além de alguns elogios? Seria ótimo para minha auto-estima e para a realização dos meus singelos sonhos, os quais eu ainda não compartilhei, mas que pelo visto será uma boa que eu os compartilhe, já que, poder ser, algum dia você que agora está me lendo, possa contribuir para que eles se tornem realidade.

Sabe-se lá, não é mesmo?

No momento eu preciso, de fato, é de um xarope para tosse. Porque enquanto minha cachorrinha dorme em berço esplendido largada no chão de madeira do meu quarto, eu estou com sono e com aquele pigarro cretino na garganta.

Tentarei uma pastilha, comprada em minha última ida à Niterói. Foi a primeira vez que eu fiz uma viagem para cuidar de questões pastorais. Não que tenha sido uma grande viagem, já que sai do Rio e apenas atravessei uma ponte, mas é com pequenos passos que iniciamos uma grande caminhada (frase clichê horrorosa), e quem sabe um dia eu não irei atravessar o Atlântico ou outras galáxias.

Sabe-se lá, não é mesmo?

Para quem estava com preguiça (e está escrevendo de graça), até que não está mal.
Perguntas como "o que é a vida?" estão naquela gloriosa categoria de questões que não são para serem feitas se você quiser realmente saber a resposta.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O homem comum

Parece que cada dia que passa é mais difícil ser simplesmente um homem comum nesta nossa cultura condensada, populesca e acéfala na qual estamos todos (infelizmente) inseridos.

Não quero ser VIP, e tenho certeza que 99,9% daqueles que sonham em sê-lo não fazem a mínima idéia do que esta sigla significa. Não quero ser da "diretoria". Não quero que minha filas sejam menores, nem passar por debaixo das cordas que separam as pessoas normais dos afortunados com seus nomes em listas de festas.

Não me importo com popozudas ou cachorras.

Não me presto a ficar levantando pesos para tornear meus músculos. Prefiro-os flácidos e sinceros do que volumosos às custas do meu tempo e do meu privilégio de ser diferente da maioria. Hoje eu vi um garoto saindo de uma academia e me escandalizei com o tempo que eu gastei em lugares como aqueles. Nada de camisetas cavadas para mim. Nada de decotes masculinos. Nada de roupas (na maioria da vezes falsificadas? quem sabe?) com cavalinhos, jacarézinhos, ou quaisquer outros bichinhos, só para proporcionar a quem usa um status imbecil.

Quanto você pega no supino? DANE-SE!

Eu quero ser comum, no sentido mais pejorativo que esta expressão possa parecer para a maioria. Portanto de agora em diante não quero mais ser "leke", "brother", "mano" ou qualquer outro bordão que me identifique com nossa gloriosa cultura.

Não faço a mínima questão de saber o que vai "bombar" aqui ou ali. Qual a música que estará nas paradas do carnaval? Estou me lixando.

Não quero ser top também. Nada de meu nome associado a coisa alguma.

Eu quero o direito de ser comum. Simples e comum. Exatamente o que ninguém quer ser. Sonho com os bastidores, com o silêncio do meu quarto e a paz da minha alma. Sem o tum tum tum das batidas da música eletrônica da moda.

Você pode se perguntar, com razão, o porquê desta raiva toda?

Raiva nenhuma. Juro. Eu só quero ficar de fora, estou lutando pelo direito sagrado de me abster de qualquer tendência e ser simplesmente EU.

Pois se você for apenas um pouco atento, o que quero é ser um homem comum, o que hoje em dia significa ser exatamente o oposto de (quase) todos, por mais contraditório que isso possa parecer.